segunda-feira, 10 de outubro de 2011

FHC: Incertezas na economia global

Nesse artigo, publicado no jornal O Estado de S.Paulo, Fernando Henrique Cardoso fala sobre as consequências da crise global nos países mais desenvolvidos da Europa. Veja abaixo o artigo:

Incertezas na economia global
Para quem já sofreu as consequências de várias crises financeiras internacionais, não chega a ser surpreendente o que acontece nos países mais desenvolvidos da Europa.
No passado recente, o receituário do FMI sempre se mostrou desatento às diferenças nacionais. Fazia ouvidos moucos à demanda por maior regulação do mercado financeiro internacional. Era o que pedíamos à comunidade internacional os que dirigimos os países naquela época de aflições.
Reclamávamos maior regulação internacional para conter a especulação contra as moedas nacionais, incluindo a criação de fundos de socorro maiores e de mais fácil acesso.
Alguns países emergentes tiveram melhores condições para enfrentar as turbulências econômicas, como foi o caso do Brasil. Com o Plano Real modificamos
drasticamente as bases da política fiscal, saneando as finanças da União e as dos Estados, impusemos regras severas ao sistema financeiro, seguindo as
recomendações de Basileia para controlar a “alavancagem”, isto é, os empréstimos sem uma base adequada de capital próprio nos bancos.
Ao lado disso, desde 1994 até hoje, os diferentes governos sustentaram um aumento constante do salário mínimo real e, a partir de 2000, foi possível criar uma rede de proteção social, da qual as Bolsas Família, iniciadas com nomes diferentes, se tornaram símbolo de inclusão social, diminuindo a pobreza e reduzindo um pouco as desigualdades.
Pela primeira vez os países mais desenvolvidos sentem as consequências da falta de regulação do sistema financeiro. Olhando o que ocorre na economia global, deparamo-nos com uma situação incerta. Cada banco central opera como melhor lhe parece.
O Fed inunda os EUA e o mundo com dólares e faz operações típicas de bancos comerciais sem se preocupar com a ortodoxia. Os responsáveis pelos desmandos financeiros não são punidos, recebem bônus (ao contrário do que ocorreu com o PROER, o programa brasileiro de saneamento do sistema financeiro, que puniu os banqueiros).
O Banco Central Europeu e o FMI exigem dos países em bancarrota virtual sacrifícios fiscais que impossibilitam a retomada do crescimento. Na Europa cada país faz a política fiscal que deseja, não há mecanismos de unificação. O desemprego e o mal-estar político minam esses países e a ameaça de default é sua parceira constante.
Desse quadro escapam as economias emergentes, China à frente de todas. Até quando?
É óbvio que uma recessão prolongada transmitirá às economias emergentes seus maus fluidos pelo conduto do comércio internacional. É preciso, antes que isso ocorra e o desastre seja maior, que haja um entendimento global.
Este deveria partir do reconhecimento de que as dívidas de alguns dos países europeus são impagáveis. É preciso aliviar já a situação da Grécia, de Portugal
e, eventualmente, da Espanha e da Itália. Suas dívidas internas e externas e a penúria de seus bancos cheios de títulos de qualidade desconhecida não lhes dão alternativas de retomada do crescimento sem uma redução substancial dos valores de seus passivos.
Não haverá condições político-morais para proceder a tais reestruturações sem, ao mesmo tempo, distribuir melhor o custo da “socialização das perdas”.
O grito de Warren Buffet, seguido por milionários de outros países, mostra o descalabro do Tea Party ao querer impor mais ônus aos mais pobres.
Por fim, ou o euro se derrete pela falta de unificação fiscal, ou esta se faz, ou a União Europeia se encolhe, autorizando alguns de seus membros a desvalorizar e usar outra vez uma moeda nacional.
Nada disso pode ser feito sem lideranças políticas fortes, dispostas a redistribuir o poder global e reorganizar suas bases decisórias. Terão força para tanto? Eis o enigma.

Veja o artigo completo no Observador Político: http://www.observadorpolitico.org.br/2011/10/incertezas-na-economia-global/





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